Muito tempo, mas nunca é tarde.

Muito tempo, mas nunca é tarde.

COMO SE VIVE Envelhecemos junto com os nossos pensamentos. Gastamos os pensamentos ; eles se gastam por si só porque se esgotam ; especialmente quando amadurecem - pensamentos crescem ; quando em forma de palavras, são sábios na medida a serem ditos, mesmo os malditos precisam desabar e desabafar, e se conter. Diante do cansaço de SE ler, você deixa de dizer. Pense em leitura além da palavra dita, maldita ou escrita. Leitura do corpo ; da ação. Leitura da postura. Leitura da ternura, e portanto, da emoção. Leitura da presença e da saudade. Leitura da linguagem. Leitura da imagem. Leitura do texto, do tom. Leitura do tema, do contexto. Filósofos diriam: “Do jogo” . Leitura da própria leitura. Ao passo desta linha pode parecer confuso, mas você sabe SE ler? 

PENSE somos um excesso de posts muito lindos ou muito putos ou muito bestas . Você pertence à tela. Que grava e resgata suas histórias, seus comportamentos, suas opiniões. Telas repórteres que fazem notícia de nossas palavras sobre este tempo. Tela-do-presente-do-futuro com um óbvio modus operandi bastante obtuso onde golpistas tentam prever o tendencioso fudeu-tudo-corre. E sendo completamente sincera, nem sei porquê tenho a vontade de agora escrever para você. Não tenho sentido vontade de escrever para você porque não tenho sentido vontade de dizer nada à você. De tal forma, você já está ciente dos fatos - da vida sincera, sincericídio pode ser interpretado como culpa. É politizado não polemizar. E então calados, entalados, enlatados, aluminizados, plasmificados, digitalizados, quando não dramatizados na globalização ou super dotados, cansamos de dizer coisas que já dizemos demais, mas não adianta tentar remediar o irremediável do viver. Novos tempos, novas cenas.

AFIRMAMOS em horário comercial, e na hora do almoço, e em nosso tempo livre, e durante o trabalho - escondidos, permitidos, impedidos ou não, e quando chegamos cansados em casa do trabalho, e antes de chegar em qualquer lugar, e antes de termos pensado em ir, sentados ou em pé no ônibus, no táxi, no saguão do aeroporto e quando embarcamos no avião, e na pracinha, e fazendo cooper, e enquanto tomamos cerveja e pasmem, até no altar ( ! ) , afirmamos quando estamos irados, exemplo, quando queremos mandar nossos digníssimos pais tomar no cu por serem SERES ESTRANHOS DEMAIS. A geração dos pais hipócritas, homofóbicos, grosseiros demais, ausentes demais, cretinos demais, mas inclusive super extraordinários por serem nossos pais (manter alguma compaixão no seu coração, é uma virtude jovem.)

COMO SE VIVE COM NOSSOS PAIS Nós exprimimos em texto nossas coisas, as ironias e as raivas… e continuamos tecendo… Imbatíveis e sempre muito interessantes…Nossos pais normalmente não entendem ou não se envolvem. Ou questionam demais, sem qualquer conhecimento de causa exceto o maior de todos, o amor. Estamos aqui, escrevendo. Redigindo. Errando o português, o inglês, o dinamarquês, o holandês e até o chinês de modo inédito, porque estamos inventamos uma nova linguagem muito pior... e muito melhor. SERTO? 

Uma nova espécie de SERES ESTRANHOS DEMAIS MELHORES QUE NOSSOS PAIS.

De um lado, criativos iluminados pela luz verde multicolorida ignominiosa da desconstrução. Do outro, telespectadores reacionários, revoltados, deprimidos, oprimidos doidos e doídos. MELHOR BEBER ATÉ O CORPO CANSAR, que dó.  E pior, amamos quase todos e livremente escrevemos preocupados POR ELES. E nisso, memetizar O RIDÍCULO DO ÓBVIO, até que muito cuidadosos com a visão míope da nossa Fonte Madre Superiora julgadora e extremamente superficial, e convenhamos sarcástica, rede “social” . Nosso pequeno grande shopping mundial e virtual. Você não acha? Que rede social é shopping? Pense, tiramos selfies (aparentemente) satisfeitos. Reforçamos o gosto por nossas marcas preferidas, nossos astros, olhamos para as nossas vitrines virtuais - o que gostamos e fazemos - em forma de “postagem” , a qual padrão todos identificamos, especialmente porque não podemos editá-lo.

(...)

Isabel Mendes