BAMBU

FEITO PARA DURAR

Isabel Cristina Mendes Teixeira



Do começo, passei passada por você e você nada, nem sorriu. Do meio, você sem receio passava por mim e ainda assim não me percebia. Do dia, houve o de perceber você, esperando e querendo e tendo nada outra vez. Da tarde nublada, houve de chover, você me ver e até querer levar para casa. E então, houve você e tudo e eu, mulher de chá e de chuva, e ali tudo que eu via era sua pinta na boca me convidando para um selinho. Houve ouvir e falar de mansinho, um estar pertinho tão bom. Da noite, duas crianças. Madrugadas refogadas de carne, cervejas e risadas, abraços-caracol, uma felicidade! Do hoje, uma realidade que nem consigo acreditar. Há, é sim, existe SIM e é tão perfeito, mas por que o perfeito não é feito pra durar?


 (Peço que me dê licença para ficar) 


De tudo que não falei acho que, pelo menos, escrevi bastante. Eu sempre penso na paz de estar bem contigo e comigo. E na sua falta de paz, do porquê das coisas não serem serenas para você, olha, talvez só lhe falte sorte e sobre falta, porque saber ser só e ser gentil NO MUNDO é duro mesmo. Ser maduro o suficiente para tudo e estar ciente de amar sem medir e sem amarrar amor. Todo corpo livre é sábio. Deixe estar, baby. Eu te conforto.  Mas, espera curar os teus calos. Aceita. Que um dia depois do outro entre dias intercalados (“inter”; “calados” - nada por acaso) é melhor que dia nenhum de amor nenhum. De nenhuma paz. Nem um gozo. Repara só, como é fácil ter amor à vida. 


E ninguém quer se relacionar com quem não está de bem consigo mesmo. Você não quer. Eu não quero. Na receita do amor consta: 1) Ver por dentro 2) Saber sentir sem medo 3) Ter prazer sem culpa 4) Perceber que cumplicidade só existe na delicadeza da mais extrema confiança! 5) Puramente isso. E 6) Não aponte dedos na minha cara. Aprende a fazer bonitinho o romance dar certo?


Aprende a tocar, e entender que os fedorzinhos e peidinhos e chulézinhos e arrotinhos e pilequinhos serão todos perdoados quando ficar claro que o importante é não deixar de se sentir feliz com pouco, que quando o pouco é tudo, o pouco do outro pode ser muito.  Ou você acha mais fácil e suficiente viver só e morrer só? 


Dentro de um corpo vazio, num buraco profundo, com suas três gerações de corpos vazios e sem luz, estúpidos corpos que já não servem mais para nada, onde lhe meterão um berço de ferro por cima, ou uma tonelada de mármore para terem certeza de que de lá você nunca mais retornará! E morrerá como um neném grande com cruzes à sua volta acima de sua cabeça, adornado de flores de plástico que não morrerão como você - mesmo elas também tendo sua vida “útil”.  Coroar um corpo oco, a essa altura é  inútil. 


Mas, é que o infinito, meu amor, ele não existe debaixo da Terra. E flores de plástico não tem alma. Só a alma é infinita dentro do que é além Terra. Além corpo estúpido que desliga. Além do que vai, quem e o quê fica. E aí que está o infinito.  Sobre a Terra que fica a sua alma, em tudo o que se deixa, um tipo de infinito vivo (triangular). Não é abaixo, nem está acima. Do fim, neste seu infinito vivo sobre a Terra está sim o que é feito para durar.


Então, como se vive para durar, se endurecidos envelhecemos? E nossos pensamentos? Para onde vão? 


Quando amadurecem, pensamentos crescem, mas se gastam por si só porque se esgotam.  Quando em forma de palavras, são sábios na medida a serem ditos, mesmo que mal ditos – ditos de modo equivocado e incompreensível - já que é preciso desabar e desabafar sem se conter, sentei, bebei e comei de modo irresistível. 


Se conter de quê? De medo, de você? - Você é o que você é. (Você pode ser irresistível, delícia.)  


 E, diante do exercício de se ler, a sua própria piada rentável é você.


Pensa antes, insegura, deixa de fazer, deixa de dizer. Ou não pensa. Ou não sabe se ler. Leitura além da palavra dita ou escrita. FAZ ALGUMA COISA POR VOCÊ, XU. Faça a sua leitura. Do corpo; da ação. Leitura da postura. Leitura da ternura, da emoção. Leitura da presença e da saudade. Leitura da linguagem. Leitura da imagem. Leitura do texto, do tom. Filósofos diriam: do jogo. Geeks diriam: do código.  Jesus Cristo diria: Sim, sou eu memo. 


Dentro e fora das telas, da internet e dos arquivos acumulados, ELES SABEM ONDE VOCÊ ESTEVE, são os rastros que nos condenam, nos resgatam e nos reportam do presente para o passado, revelando como crescemos e o que pensamos que somos, e o que somos de fato. E quando percebo, tento, roliça e porca de preguiça, tento me desviar do óbvio. De doer ver que se morre sem viver, num modus-operandi-super-perigoso desse espetáculo tendencioso chamado VIDA. Vulgo fudeu-tudo-corre.


Os ratos abusados ficam mais abusados vendendo esse Brasil patriotário, mas os sensíveis, esses não morrerão calados! Posso morrer confusa, mas não morrerei de tédio! Não há remédio e nem muito o que dizer sobre isso, mesmo sobrando discurso. É muito divertido viver nesse país sabendo que sou infeliz. (Diga-me quem exploras e eu te direi quem és). Esse sistema do jeito que está já era. 


Ok, eu posso estar exagerando...  Sem dramas. Apenas sofridos, falidos,  viciados em  líquidos espirituosos, cafeína, morfina, beats. Algumas pílulas, ora terços, quartinhos, carreiras, cabelinhos, ora papeizinhos, baseadinhos, cigarrinhos. Quando jovens, éramos superdotados, mas fomos tão preguiçosos. 


Cansamos? É porque fazem da nossa vida um inferno! E daí, dizemos coisas demais quando é de menos, e o mesmo ao contrário. Em mesas de bar, nem lembramos do que dizemos. Estamos sem grana, cansados, sem grana e o tempo todo articulando nossas convicções SEM GRANA!!! Porque o sistema capitalista já não funciona mais, minha gente, vamos fazer a revolução! No Brasil, a exemplo, se convence um juiz pelo conjunto de uma obra que diz respeito a toda uma metodologia de distribuição de renda popular que a classe dominante não aceita por não querer dividir. Não é uma metodologia interessante o bastante para os ricos que querem ser ainda mais ricos. A indústria farmacêutica ganha trilhões barrando a legalização de uma certa plantinha medicinal. Os Estados Unidos não descem do seu pedestal, e acham que não estamos vendo que estão de olho há anos no nosso petróleo, nas nossas riquezas e na nossa Amazônia. 


Os nórdicos se gabam por suas barbas ruivas e aparadas, mas também estão falidos – salvo a Dinamarca que é um trem que essa Dinamarca tem. Que tudo lá parece perfeito. No Brasil, o oponente é derrubado com uma trágica demagogia gentil televisionada que descara seu escandaloso jogo do PODERIA SER PIOR.  Melhor sozinho? Melhor morrer, né?! Certo...Calma. Pensa que todo mundo tem um lado. E são vários lados, ao contrário do que se pensa. Acima, abaixo. Os de esquerda, fodam-se os que discordam, os de esquerda são os melhores. Os de direita, hm, tenho certa pena de não sermos financeiramente tão ricos quanto eles. Só com todo esse dinheiro, os ricos podem continuar comprando o poder de comprar o Brasil para continuar na pilantragem. Brasileiro é muito filho da puta, bicho. E LOOSE YOURSELF que é carnaval! 


Se a gente não lembrar os caras, o baixíssimo golpe aplicado no segundo mandato da primeira presidente mulher democraticamente eleita depois de 13 anos de esquerda, será esquecido. O conjunto da obra, que foi um país feliz, com novas oportunidades, mesmo com o dinheiro mandando em tudo por baixo dos panos - e dos narizes sujos de pó branco de nossos senadores, tudo será esquecido!  Um fato me ocorreu, que o lado de dentro do cenário político brasileiro é bem mais podre do que o meu. Esses ratos velhos de gravata não valem nada - salvo alguns e até os respeito. Com crise criada ou não, estamos em crise e é preciso ter convicção no lado em que se está se jogando o jogo dos espíritos de porco. É uma puta responsabilidade de todos os brasileiros envolvidos. E ‘ocê não esquiva não, que eu te dou um boxe, malandro'. 


Com a devida leitura do meu novo meme particular preferido (by Rede Globo) “AGRO não é tudo, safada”. Me dá um emprego ou mortadelas e coxinhas se esfaquearão em Brasília. E quem vai se candidatar? Eu? Nem dou conta. Só vejo que os números são todos invertidos e inventados. Por quê quem quer saber que o Brasil é um país riquíssimo?! Os ricos.


Do absurdo dos absurdos, a encenação de abomináveis discursos. Olha, nunca acredite em político pastor, gravata azul canalha, filho de candidato, candidato palhaço ou candidato ex-jogador de futebol.  Porque é triste de ver e ouvir as indecências de Vossas Excelências. Não estão preparados. Não deveriam estar ali. Deleta tudo. Vá de retro a canalhice dos que deliram na tese de continuar golpeando os trabalhadores brasileiros. CTRL+N + CTRL+B (porque estamos salvando o Brasil no WORD.)  


Daí, olha, não to dando ideia... Mas, vai aparecer alguém desempregado e disposto, querendo um freela de homem-bomba. Os homem-bomba brasileiro que até são de ferro, mas padecem de latão, de pão e de muita consciência. E cês tão tirando os homem-bomba!!! - Só porque bomba no Brasil é de prego em panela de pressão. Que não duvide não que é que é logo mais - não culpe o poeta por dar ideia. 


Assim, insisto: Melhor sozinho?  Melhor buscando felicidade? Vamos ver felicidade. Onde se busca felicidade:  nos intervalos do horário comercial e ao servir o almoço; chegando a quentinha, e em nosso tempo livre e durante o trabalho - escondidos, permitidos, impedidos – e quando chegamos cansados em casa do trabalho e antes de chegar em qualquer lugar e antes de termos pensado em ir, sentados ou em pé no ônibus, no táxi, no saguão do aeroporto e quando embarcamos no avião e na famigerada pracinha sem aro na quadra de basquete, e fazendo cooper e boquete, e enquanto tomamos cervejas entristecidos pelo valor dos nossos umbigos, vendo filme on demand, e isolados, e juntos em jogral, grupal ou não, calmos na pele de quem se ama, quando se cozinha e se prepara amanhãs,  e ao dançar, mover o corpo, saltando, lutando, querendo tudo, movendo tudo de lugar pra alcançar com as pontinhas dos dedinhos a felicidade que, pasmem, pode até estar no altar! (E, especialmente, quando estamos irados, bravos, em nossa certeza de sentir, somos felizes na raiva!).


Do lógico, precisamos de sentido nos discursos. É uma ironia. Na Lei da Vida, se você tem compaixão no seu coração, irmão, você vai se culpar se a sua mãe não te aceitar, se o seu pai não te querer, se o seu irmão não te abraçar. E o que isso significa para você, só você pode explicar.


Então, como ser feliz e viver em paz de uma forma familiar? Primeiro, não deposite a paz num túmulo de três gerações incapazes de sentir. O que eles querem de nós é mais do que podemos oferecer. E para zerar as raivas que continuamos tecendo imbatíveis, é indispensável o interesse na felicidade de deixar de sentir essa raiva. E nossos pais, que normalmente não entendem ou não se envolvem com o que temos a dizer de modo sincero e profundo, são apenas nossa felicidade no mundo. O mundo é injusto meu bem.  Mesmo questionando demais e culpabilizando nossa inabilidade para com o amor deles, eles são nossas serpentes, é gente delicada pelo elo e indecente, lidando com a gente, e chamamos esse povo de parente. E eu tenho parentes há tempo suficiente. 


Quando nasci foi quase dentro de um caminhão, quase, pois deu tempo de chegar no hospital e que pena, pois esta história poderia ser muito mais interessante. Faria mais sentido à minha cara de caminhoneira norte mineira. Enfim, era agosto de todos os santos e todas as leoas. Madonna estava em festa aquele dia. Sob o sol de leão, lua em leão. Curioso. E a ligação extra compreensível que senti com minha mãe justificou-se quando soube que o ascendente era libra. Ela também é libra. E a vó que mais amo no mundo nascera Leolina no dia anterior, mas há 50 e poucos anos antes e a gente ainda não se conhecia. Que a saber eu também não conhecia Madonna e tão pouco, festa. Que a saber, a melhor coisa que uma mãe pode oferecer a um feto, antes mesmo de ser filho e conhecê-lo, é um campo limpo. No limbo toda mãe é muita força, e sinto muito pelos filhos mal-amados. Não que eu saiba TUDO sobre sobreviver ao mal amor dos abusos verbais e sexuais MAS tenho conseguido me curar dos abusos que sofri e de meus próprios abusos. Não... na verdade não sei se consegui mesmo. Portanto, desconsidere se parecer um testemunho: viver é sobre viver, amar e partir. 


Uma jovem cigana me contou que minha outra avó, a paterna real que não é a vó leonina, "usufrui do meu consumo" para se manter presente aqui. Ela ainda não aceitou a sua morte nesta terra, parece. E como eu não entendo muito de espíritos, nem de espiritismo, eu rezo catolicamente para acalentar uma espiritualização que eu tenho, minhas culpas e desculpas, sempre esperando o jubiloso perdão de quem acredito ser maior: DEUS.  Tento atrair sorte, no motivo de Deus me trazer a esse mundo onde tenho tanta dificuldade de me adaptar confortavelmente. Viver é morrer a cada dia, e se não fosse tão interessante essa relação entre vida e morte e o que se sente (chamado AMOR) tudo seria um erro. Porque não vivemos de fato. Não somos verdadeiramente livres para tal. Estamos meio que presos e somos treinados para vivermos trabalhando num sistema que roda pirata uma máquina de crédito e débito e que maltrata de preocupação os seres humanos, robóticos e neuróticos. Freud diria ainda: Esquizofrênicos e Psicopatas. Delirando com números em telas que representam dinheiros que não temos, que estão ali, mas não são nossos. Olha, viver é conviver com as nossas dívidas - as materiais e as espirituais. E de fato, nosso saldo é quase sempre devedor. O nome está sujo, assim como a alma pode estar também inadimplente. E com o bolso vazio, tenho 31 anos de motivos heroico-marginais para sair sem pagar a conta, mas não vou porque não quero, e eu posso querer o que eu quiser, e eu só quero é que se foda.


A felicidade está na busca do inalcançável. Daí deixa de ser felicidade e passa a ser sucesso. E o sucesso sim é feito para durar. 





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